Além daquele sofá... : Como nossos pais

30 de janeiro de 2013


Como nossos pais

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Depois de quase três anos de terapia percebi o quanto somos parecidos com nossos pais. Nossos hábitos, qualidades, defeitos e principalmente: nossos erros. Pensando nesse assunto claro que me lembrei da canção interpretada pela inigualável Elis Regina, que diz mais ou menos assim: “Minha dor é perceber que apesar de feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Essa sentença pode ser interpretada de inúmeras maneiras, irei me ater apenas a que julguei importante para minha vida, que foi um insight, uma descoberta – não tão brilhante assim!

Se você ainda é muito jovem vai dizer que eu sou louca e deve estar argumentando mentalmente que “não, não tenho nada a ver com os meus pais!”. Pois te digo que tem, só não percebeu ainda. Fora as características físicas, quero me fixar a tendência que os filhos tem de repetir os erros paternos – por mais que odiemos esses erros!

Quantos de vocês já não viram situações de mulheres que tinham pais agressivos e que, em algum determinado momento da vida, se casam com homens igualmente agressivos? Quantas mulheres que sofreram na infância as consequências do grande consumo de álcool por parte do pai e se relacionam com homens que adoram beber? Já vi milhares dessas repetições. Acredito que vocês também. Na minha família encontro inúmeros casos, mas prefiro mantê-los em sigilo, já que prometi não expor ninguém do meu convívio enquanto eles ainda estiverem vivos.

Tentarei dar uma breve explicação do que aprendi nas minhas sessões de análise, lembrando que curso filosofia e não psicologia, portanto tudo que será explicitado é uma interpretação minha dos fatos. Gostaria também de deixar claro que estou tratando de mulheres, dos homens nada sei! Comecemos então: toda garota tem uma espécie de tela em branco em seu imaginário, e nessa tela ela pinta todas as características do relacionamento dos pais. Ela provavelmente vai ressaltar os defeitos do pai, os defeitos da mãe, as qualidades, e as faltas de cada um. Isso tudo fica gravado na memória da criança, que vai usar inconscientemente todas essas “informações” como parâmetro para escolha do namorado/marido/pai dos seus filhos. É claro que ela não faz isso sabendo que está de fato fazendo isso. Tudo fica no subconsciente. Só depois de muita terapia é que gente descobre a merda que está fazendo.

Existe uma fase da adolescência em que toda garota compete com a mãe, isso é absolutamente normal! – de verdade!, e dessa competição, a garota pensa que vai conseguir fazer melhor que a mãe e que vai conseguir encontrar um marido melhor que o pai que ela teve e que se ele tiver algum defeito ela vai conseguir mudar isso, porque afinal, o que quase todas as mulheres querem é o trunfo de conseguir mudar o companheiro. Um dia todo mundo aprende que isso é balela. Furada.

Eu acredito que todas as pessoas nascem com características únicas e imutáveis. Não tem amor, não tem namoro, não tem casamento que mude. Geralmente são características extremamente fortes e que incomodam todo mundo que está por perto. Portanto não adianta a gente querer mudar ninguém. Você vai esperar o cara mudar eternamente, e o máximo que vai conseguir é um sexo de reconciliação, uma mudança rápida de dois meses até que o caráter elevado do outro fale mais alto e ele volte novamente a fazer tudo que te irritava novamente.

É por isso que eu digo: se o seu atual companheiro tem atitudes recorrentes e que você odeia, o que é que você ainda está fazendo com esse cara? Tá esperando ele mudar? Só se mudar de país, meu bem. Ou se acostuma ou não perturba. É claro que eu acredito em um controle de conduta, mas tudo que permanece muito tempo controlado uma hora se descontrola. E ai vai voltar o ciclo medíocre de sexo de reconciliação – paraíso por dois meses – inferno novamente.

Eu já cometi esse erro. Uma vez me envolvi com um cara que era igual ao meu pai. Idêntico. Tinham os mesmo defeitos, qualidades, se pareciam fisicamente e faziam aniversário no mesmo dia. Claro que na época eu não percebia a merda que eu tava fazendo. O que me manteve ligada a ele por tanto tempo foi justamente essa cegueira de querer tentar corrigir o erro da minha mãe. Até que um dia eu percebi que eu não queria que esse cara se tornasse o pai dos meus filhos, porque eu não quero passar essa maldição adiante. Minha mãe cometeu o erro da minha avó, e eu quase cometi o erro da minha mãe. E isso vira uma armadilha, porque a gente não quer desistir. É uma força interna extremamente forte que nos prende àquela pessoa tão parecida com a nossa figura paterna.

Creio que o importante é aplicarmos em nossas vidas apenas os bons conselhos dos nossos pais, e não tentarmos corrigir subconscientemente os erros cometidos por eles. O que poderia ter sido não foi. E não será.
                                                                                                                                      
                                                                                                                     Marcella Prado 

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