Eu só queria ser normal, vestir
um manequim 36 e postar fotos dos meu passeios gastronômicos no Instagram. Queria não ter pudor pra expor
minha vida nas redes sociais e ter naturalidade suficiente pra conseguir tirar
fotografias em frente a monumentos com os braços abertos e o rosto cheio de alegria.
Queria não ter lido Fernando Pessoa e Nietzsche aos 14 anos e ter entrado em
crise comigo mesma, pois desde então passei a não mais acreditar nessa pureza e
felicidade em estar vivo que todas as outras garotas da minha idade
acreditavam. Eu gostaria de saber fazer pose e gatinha pras fotos e me sentir a
maior sedutora da balada sem auxílio de álcool. Eu queria saber combinar meu
batom com a maquiagem e colocar um vestidinho bem curto pra incorporar a
fantasia de piriguete. Eu queria ser menos crítica e quem sabe conseguir ler e
discutir excitadamente com as minhas amigas 50 tons de cinza, e não ficar de
fora, com o nariz em pé dando minhas opiniões. Eu queria poder suportar sem dor
a vida e a rotina, que me matam e aniquilam. Eu queria acordar contente por
mais um dia. Penso que talvez acreditar em Deus seja mais fácil do que se
declarar ateu. Eu iria poder culpar alguém pelos meus erros e me apoiar em um
ser supremo pra acalmar minhas angústias. Não é fácil seguir quando não se
acredita em si e nem em um Deus pseudo salvador. Eu queria poder conseguir
fingir que penso que no final tudo vai dar certo. Eu queria poder sentir essa
alegria pura e despreocupada que vejo nos olhares alheios e não levar tudo a
ferro e fogo . Eu queria conseguir suportar o peso de ser eu mesma. De saber o
que fazer de mim. De não mais me boicotar, de viver um dia de cada vez e de
saber lidar com essa explosão de ansiedade que eu sinto internamente. Mas
principalmente, eu não queria ter mais medo de viver.
Marcella Prado
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